Este é o quarto e último artigo desta série escrita por Robert.F. Steele, MA para o projeto The Immeansurable, do Krishnamurti Educational Center.
Lancei-me à tradução dos artigos por considera-los de grande valia para a investigação a que tenho me dedicado, a questão do sofrimento nas relações humanas. E também, pela forma esclarecedora com que o autor expõe e contextualiza a visão krishnamurtiana, fonte principal da minha pesquisa para ministrar a Oficina Sofrer ou não sofrer, eis a questão!
Para aqueles que desejem ler este quarto artigo no original, segue o link:
Introdução
Chegamos ao final da série. A partir dos capítulos anteriores, há agora bastante informação disponível, com ideias e contrastes, para consideração e investigação. Além disso, já temos uma conjuntura desenvolvida. Até agora, as posições declaradas de Krishnamurti foram contrastadas com outras, que podem formar conjunturas de concordância com as visões de ego e eu. No entanto, ir além do ego é a único território de Krishnamurti, e é onde estamos agora.
A psicologia, como mencionado anteriormente, só procura trazer mais conforto e facilidade ao ego. A ciência do cérebro, embora possa descrever os processos neurológicos que criam representações, admite que realmente não pode explorar o funcionamento interno do ego porque é puramente subjetivo. As informações coletadas e os paralelos estabelecidos fornecerão uma plataforma para explorar os comentários de Krishnamurti ainda mais, sobre o que pode implicar o ir além do ego.
Como nos outros capítulos desta discussão, por favor, esteja ciente de que o autor não está buscando convencer ninguém. O material a seguir é exploratório e investigativo, estando formatado para ajudar no exame e compreensão do ego e do eu.
O autor acompanha e responde os comentários referentes aos quatro capítulos. Caso deseje consultar, seguem os links dos artigos originais, em inglês.
Quem somos nós, afinal?
A pesquisa apresentada nestes artigos indica que o sentido do eu é apenas isto, uma sensação criada e projetada na consciência pelo cérebro. É, basicamente, uma ideia de quem nós pensamos que somos. E, como todas as ideias, é uma representação e não a “coisa” de fato. A ideia de si está ligada a identificações estabelecidas a partir de tradição, família, nacionalidade, ocupação, qualquer tipo e forma de afiliação com qualquer grupo, passado ou presente. Todas essas identificações misturadas formam um senso de identidade, mas, quem realmente somos? Não são todas essas identificações uma coleção composta de descrições capturadas como fragmentos na memória? Esses fragmentos na memória podem ter uma função útil para mapear e localizar posições sociais e ocupacionais do eu, que são bastante legítimas. No entanto, é o senso de posse, de comando e controle, que pode levar a consciência humana em uma direção equivocada no que diz respeito à administração da vida. Esse senso de auto propriedade é essencialmente o ego com todas as suas reações psicológicas, julgamentos e ambições. Krishnamurti, em discussões com o Dr. David Bohm, diz que a humanidade deu e continua a dar esse “passo errado”. Krishnamurti também fala de um lugar onde o pensamento nunca deveria ir. Estarão estas declarações intimamente ligadas? Em outras palavras, é esse “passo errado” o “lugar pensamento” para o qual nunca se deveria ir? Se for assim, a indicação teria algo a ver com a formulação de uma ideia fixa (lugar pensamento) sobre quem somos e, em seguida, confundir a ideia com a realidade (passo errado).
Krishnamurti dizia que o que ele estava falando era algo muito simples e, por ser simples, o público teria dificuldade de apreender. Ele também mencionava frequentemente que havia uma visão não convencional do tempo envolvida no que ele estava tentando dizer. O cessar do tempo é apresentado por ele como ingrediente necessário para realizar a negação dos falsos conceitos acumulados. Ele propunha o foco no agora e a negação do passado e do futuro? Se juntarmos o final do tempo, o “passo errado”, o “local pensamento” equivocado e tudo o que aprendemos sobre a palavra não ser a coisa, por exemplo, a palavra ego/eu não é o que somos, será possível vermos tudo isso de um só lance, de forma a detectarmos algo muito simples? Aqui existe, para sua consideração, uma resposta possível para a pergunta: simplesmente declarando, somos o que estamos fazendo? Somos realmente a nossa atual e corrente conduta, nada mais, nada menos? O nosso atuar, no entanto, além de incluir nossas atividades e o sentido imediato de motivação e decisão, inclui também, e de maneira mais significativa, todo o material da escuridão turbulenta do subconsciente. A maior parte do ego está nessas profundezas e, a partir delas, energias sutis, mas poderosas, de todo o nosso conteúdo psicológico, invisivelmente influenciam e direcionam o que estamos fazendo. Essa é a área que a consciência deve tentar iluminar.
Nós sabemos o que é a consciência; sabemos que vivemos, nos movemos, trabalhamos dia a dia, seguimos sem saber, como uma máquina no piloto automático. Quando isso é indicado a você, sua mente consciente começa a se observar. Mas ela segue controlada pelas camadas mais profundas do inconsciente, que são muito mais vitais e muito mais ativas do que a chamada mente superficial. Não é a chamada mente inconsciente o resíduo de todas as lutas, buscas de toda a humanidade, que se expressa para fora, como, por exemplo, num indiano, com sua grande tradição de costume e cultura? ...
É importante descobrir o que é o inconsciente. Não leia livros, pois eles só descreverão o que é o inconsciente, e a descrição impedirá que você o descubra. Agora, se você começar a investigar de forma inteligente, sem julgar, sem dizer "é isto" ou "não é isso", observando todo o processo da mente - que é meditação - então verá que há muito pouca diferença entre o inconsciente e o consciente.
- Krishnamurti
Se somos, na realidade, o que estamos fazendo, alguns aspectos muito interessantes surgem. Primeiro, a implicação seria que todos nós somos algo que acontece no agora, junto com tudo o mais, e este agora é um lugar atemporal de interação constante de todos os elementos cósmicos, de onde flui constante criação. Isso também significa que quem ou o que somos não é nossa propriedade. Somos uma manifestação no fluxo constante que é o agora. Se isso estiver correto, não havendo como o pensamento definir quem somos, o que poderia ver ou observar uma pessoa que está sendo a sua própria ação? Parece que para ver algo no momento presente o observador também deve “ser” nesse momento. No que se refere à consciência, usar imagens e ideias advindas da memória não se qualificaria, pois constituiria o passado como eu/ego invadindo e comandando o presente. Eu acho que uma grande questão surge dessa situação aparentemente impossível: Existe um estado de consciência, uma consciência que não está cheia de pensamentos? Se assim for, isso seria uma consciência do presente no presente e pelo presente? E, se isso é correto, seria uma consciência que poderia compreender a totalidade do que estamos fazendo?
Uma dualidade interessante
Vamos olhar por uma perspectiva diferente, para ver se a situação pode ser esclarecida. Uma dualidade pode ser descoberta examinando como os humanos tendem a ver a existência. Um observador olha para o mundo e vê objetos e eventos como manifestações da criação. O humano observa algo, qualquer coisa no mundo exterior, e essa coisa, seja uma árvore, uma montanha, as estrelas, um inseto ou o que quer que seja, está lá apenas como algo trazido à existência pela natureza; é essencialmente propriedade da natureza, o cosmos. E tudo o que o objeto observado pode fazer é parte de seu desenvolvimento cósmico e evolutivo. O objeto não é dono dessas propriedades, não as criou. Tudo é como é, e tudo está acontecendo no momento presente. Agora, no entanto, quando nós nos vemos, ou a outros seres humanos, uma perspectiva totalmente diferente é utilizada, que é essencialmente a do ego. Digamos que alguém acabou de realizar alguma coisa e recebeu algum tipo de reconhecimento. O ego entra e diz: "Eu fiz isso", sendo que geralmente há muitas implicações nessa reivindicação de propriedade. O orgulho pode estar lá como uma parte da propriedade, que também pode gerar um senso de comparação e julgamento com os outros, resultando em um senso de superioridade. A realização pode ser muito boa, não como uma conquista apenas, mas também como sendo o senso de ambição para vir a ser que finalmente chegou lá. A pessoa se sente otimista e confiante no futuro ao mesmo tempo em que se vê no controle. Este é apenas um exemplo de muitos eventos possíveis e diferentes avaliações, algumas positivas e outras negativas, mas a essência é a mesma. Há a formação de uma ideia do eu associado à propriedade do eu que faz o evento e, também, os julgamentos do ego que se seguem para criar um estado de espírito que leva a um futuro imaginado. Mesmo quando dizemos que somos isso, aquilo ou o que quer que seja, estamos afirmando essa posição como um lugar no futuro, pois é um sentido fixo de identidade que vai para o futuro.
Basicamente, a dualidade vem da visualização de eventos e objetos fora de nós, externamente, e de eventos que nos dizem respeito a partir de uma posição interior orientada para o ego. A dualidade pode ser desafiada ao se perguntar se uma posição precisa e realista requer que todos, inclusive nós, sejam vistos de uma posição externa. Vamos colocar a questão de forma diferente. Se tudo o que nosso cérebro está observando vem da mesma fonte cósmica, então, entre aquilo que estamos percebendo não deveríamos também incluir nossos próprios pensamentos, sentimentos e processos mentais, incluindo ideias de quem pensamos ser, como um construto eu/ego? Penso que, se tudo é visto de forma inclusiva, o ego que se afirma como “fazedor” deve ser seriamente desafiado, porque tudo, inclusive o “eu” ou o “nós”, está surgindo da mesma fonte no mesmo momento atemporal do agora. Nós, juntamente com tudo o mais, somos apenas eventos acontecendo. Se isso é verdade, significa que somos o que está sendo gerado pelo cérebro no momento, e a única maneira do cérebro manter uma relação sadia com o agora é prestando cuidadosa e honesta atenção ao que está fazendo, por meio do ciclo de realimentação (feedback loop) da consciência. Esta é a única ação pela qual o cérebro pode observar suas próprias funções em tempo real. Sem essa qualidade de atenção, o cérebro entra facilmente nos reinos e alucinações da fantasia. Alucinações sensoriais foram comprovadas em experimentos de privação sensorial décadas atrás. E, se o ego está dominando o processo de observação, a distorção inevitável dos mecanismos de defesa ocorrerá na informação que retorna ao cérebro. O ego é basicamente uma maneira do cérebro escolher informações recebidas. O ego protege o cérebro de informações contraditórias sobre quem nós pensamos que somos. Dessa maneira, a ilusão do eu se defende contra a intrusão de uma visão externa que poderia dissipar essa ilusão reconfortante.
Insight
Outra questão surge agora. Se o cérebro está observando um fluxo constante de informações, recebidas de uma maneira que não toma posição em relação a essas informações, o que incluiria a observação de si mesmo misturando um feedback com novas informações sensoriais do mundo externo, isto indica que a qualidade da observação estaria livre de memória. A observação se entrelaçaria com o fluxo externo de forma cristalina e livre de preconceitos, à medida que os pré-julgamentos seguem internamente. Observação pura. Se isso é possível, como algo novo poderia ser recebido pelo cérebro e trazido à consciência? Não poderia ser da forma como estamos acostumados, porque esse processo envolve manter um conceito como um pensamento na consciência e, em seguida, refletir sobre ele. Isso é chamado de pensar, e envolve pensamentos de diferentes representações de memória sendo contrastados e comparados. É uma ferramenta importante e totalmente necessária para projetar e construir coisas. Pensamentos e ideias são contrastados com outros pensamentos e ideias como um fluxo de ideias emergentes das interações. Isso funciona bem quando os materiais usados podem reter propriedades fixas por tempo suficiente para serem úteis. Mas nada de verdadeiramente novo pode resultar disso: nenhuma mudança radical, nenhuma revolução; somente modificações e prorrogações são possíveis, e é isso que parece acontecer quando o eu/ego é manifestado. Parece que a consciência que surge da consciência em pura atenção seria de natureza totalmente diferente e o único processo mental que poderia rastrear os processos de pensamento do cérebro. Eu me pergunto se Krishnamurti está descrevendo exatamente esse processo quando fala de insight. O insight seria uma fusão na consciência, originando-se do contato do cérebro com o presente imediato (nowness)?
- Krishnamurti
Quando eu atuo a partir de uma conclusão, minha ação só poderá ser continuamente mecânica, embora no começo eu possa ter tido um insight. Agora, se não formular uma conclusão, mas ficar apenas com insight, a ação será não-mecânica. Portanto, essa ação é sempre criativa, é sempre nova, está sempre viva. Então, uma mente que tem discernimento e não tira uma conclusão e, portanto, age, está no movimento do insight contínuo, do insight constante. Você entendeu isso? Entenda, não verbalmente, mas na realidade; veja a verdade disso, como você vê a verdade de um precipício.
Esse insight constante, sem uma fórmula, sem uma conclusão que ponha fim a essa percepção, é ação criativa. Por favor, olhe para isso, mergulhe nisso em você mesmo. É surpreendentemente belo e interessante como a mente, que é pensamento, está ausente quando você tem um insight. O pensamento não pode tê-lo. Você só tem um insight quando a mente não está mecanicamente operando na estrutura do pensamento.
O insight é reconhecido e as pessoas relataram seus efeitos. Geralmente é descrito como vindo sem convite, como um relâmpago na consciência, deixando a pessoa que tem a experiência tomada de surpresa. Inventores e artistas falaram sobre isso, assim como outros. Foi descrito como uma epifania, um despertar inesperado, algo profundo, um afastamento das visões enrijecidas, um profundo senso de verdade inescapável. Sabemos que acontece, mas não sabemos nada sobre isso. É um mistério. Não temos controle sobre isso e sabemos que não tem nada a ver com esforço ou planos.
- Krishnamurti
O problema, então, não é como libertar a mente do medo, ou como ter uma mente quieta a fim de dissolver o medo, mas se o medo pode ser compreendido. Embora eu possa ter medo de muitas coisas - do meu chefe, da minha esposa ou marido, da morte, de perder minha conta bancária, do que meus vizinhos dizem, de não cumprir, de perder minha importância - o próprio medo é o resultado de um processo total, não é? Ou seja, o eu, o ego, o "mim", em sua atividade, projeta o medo. A substância é o pensamento do "eu" e sua sombra é o medo; e obviamente não é bom lutar contra a sombra, a reação.
O "eu" está se protegendo a si mesmo, ansiando, esperançando, desejando, lutando, constantemente comparando, pesando, julgando. Quer poder, posição, prestígio, quer ser admirado. Pode esse "eu", que é a fonte do medo, deixar de ser, não eternamente, mas de momento a momento? Quando surge o sentimento medo, pode a mente estar ciente disso, examiná-lo sem condenação, julgamento, escolha? Porque, no momento em que você começa a julgar, avaliar, é o “eu” que está dirigindo e condicionando seu pensamento, não é?
Considerando outras declarações de Krishnamurti acho que agora podemos olhar para outros aspectos da possibilidade de sermos e apenas sermos aquilo que estamos fazendo. Ele fala para ler o livro do nosso eu como sendo nosso único guia real. De fato, ele enfatiza que ele e suas declarações não são importantes, exceto como um indicador da necessidade de examinar cuidadosamente e ler este livro do eu. Coloque Krishnamurti de lado, uma vez que isso seja entendido, e entre em você mesmo. Você estará sozinho nesta jornada, sem um plano ou mapa do terreno. O desconhecido é um espaço que não pode ser capturado pelo pensamento, ideia ou imagem. É a terra sem caminhos. Também pode ser o lugar onde a conexão com o insight é estabelecida. Uma coisa é bastante clara sobre insight, não pode ser controlado ou manipulado. Parece estar além do alcance do ego e da intenção. Parece não haver registros de profunda mudança interior na maioria das pessoas que experimentaram insight. No entanto, para alguns, o insight parece ter trazido mudanças profundas. Krishnamurti e Buda vêm à mente, talvez alguns outros, mas é muito raro esse tipo de ocorrência. Então, o que poderia explicar o fato de que o insight nem sempre traz mudanças profundas e pessoais e uma revolução radical na consciência? Temos que especular aqui, imaginando se um insight específico é necessário para uma verdadeira transcendência do ego. Se for esse o caso, a lógica indicaria que uma visão do próprio ego pode ser a chave que abre a porta. Mas isso poderia trazer um paradoxo existencial, já que o ego, que se origina do cérebro para se proteger do medo existencial, não quer ter nada a ver com a perda de seu cobertor de segurança. Abrir-se para permitir a compreensão da natureza do ego pode ser semelhante a pedir a uma pessoa que tem medo terrível de saltar de um penhasco, dizendo-lhes que, depois de saltar, um paraquedas se materializará magicamente e se abrirá para salvá-los.
Isso parece um dilema horrível, mas talvez haja uma maneira diferente de visualizá-lo. Talvez ao nascermos já tenhamos pulado deste precipício de qualquer forma, e estamos caindo e caindo rumo ao nosso inevitável fim, e ao mesmo tempo praticando nossas crenças e lutando para manter o ego e nos mantendo ocupados com todos os nossos hábitos e preocupações - caindo enquanto refletimos o passado e fantasiamos sobre o futuro. Talvez queda “é” vida, inevitável e, sobretudo, incontrolável, exceto por algumas insignificantes habilidades que temos. A vantagem é que, na verdade, não temos nada a perder em duvidar profundamente da realidade do nosso mundo projetado pelo ego. Vamos enfrentá-lo, pois, de qualquer maneira é um lugar muito confuso.
A verdade é uma terra sem caminhos
O dilema da vida para os seres humanos suscitou muita reflexão, especulação e métodos propostos para aliviar nosso sofrimento existencial. Diferentes tipos da chamada meditação, dietas, exercícios, retiros, crenças etc., foram propostos como um caminho de transcendência. Se o material desses artigos estiver correto, eles não funcionarão. A razão é realmente técnica. O conhecido, como conhecimento e informação, é armazenado na memória, e ela só pode ser do passado. A questão é, mais uma vez, o tempo. Ir além envolve o contato com o desconhecido, que é o desdobramento do agora, aquele lugar assustador do qual o ego quer ficar longe. Planos e programas de libertação são ilusionismos pelos quais o passado, via desejo (pela liberação), está trabalhando (pensa) em direção ao objetivo. Simplificando, este é apenas o passado projetando seus desejos no futuro. Mais ego, sob nova roupagem, diferente, novo e melhorado! Utilizar as vestes da espiritualidade é desejo.
Liberdade do Conhecido
Se as informações e pesquisas apresentadas estiverem corretas, podem ser tiradas algumas conclusões lógicas com relação aos ensinamentos de J. Krishnamurti:
· Todos nós compartilhamos essa coisa chamada ego. (Você é o mundo.)
· O ego é uma criação do cérebro na tentativa de gerenciar o medo existencial. (O fim do medo.)
· A consciência está cheia de memória baixada(downloaded) pelo cérebro. (Consciência é o seu próprio conteúdo.)
· Como criador do ego, o cérebro é o verdadeiro observador olhando para si mesmo. (O observador é o observado.)
· Esforços e métodos conscientes derivam do ego como um caminho proposto. (A verdade é uma terra sem caminhos.)
· Abandonar o ego depende do cérebro, na medida em que vê o perigo de sua criação. (Consciência sem escolha.)
· A rendição do cérebro aconteceria a partir de operações silenciosas no próprio cérebro. (Sem esforço.)
· O abandono do ego pelo cérebro é um abraço da realidade do “agora”. (O final do tempo.)
· A observação não distorcida do cérebro pelo cérebro pode trazer mudanças profundas. (A visão é o que faz.)
Krishnamurti compartilhou suas percepções conosco e elas são impressionantes. Só agora algumas delas estão sendo confirmadas pela ciência. Nos anos antes da tecnologia e do conhecimento estarem disponíveis, o pensamento sozinho nunca poderia ter chegado às afirmações de Krishnamurti sobre as operações do cérebro. Na verdade, deve ter sido emitido a partir da ação do insight. Examinar as preocupações autocentradas do ego provavelmente está além do alcance da ciência. É por isso que eu acho que o insight de Krishnamurti sobre as implicações da terra sem caminhos é tão surpreendente, e também totalmente lógico. No entanto, um paradoxo parece surgir. Pode haver uma mente silenciosa, ou um lugar na mente, que possa funcionar fora do alcance do ego para poder observá-lo? Em outras palavras, há um silêncio para observar o barulho? Acho que teria de haver, senão, o ruído do ego continuaria ininterruptamente para sempre, ou pelo menos até sermos separados dele pela morte. Não haveria razão para Krishnamurti sequer discuti-lo ou levantá-lo. No entanto, esse dilema ou paradoxo é uma consideração válida. Meu palpite é que muitas pessoas negariam que têm poderosos medos da vida e da morte, profundamente soterrados, e que seu senso de eu/ego foi criado por seu cérebro para evitar a paralisia frente a esses medos. A consciência cotidiana diz que isso é ridículo, que não há medo paralisante e o eu/ego é algo real. Se este for o caso, e se Krishnamurti e a ciência estiverem certos, uma qualidade diferente de consciência deve ser necessária para penetrar o muro do ego. Uma visão superficial não será suficiente para sondar as profundezas do subconsciente. Encontrar a qualidade da consciência para fazer o trabalho é provavelmente o mais profundo desafio enfrentado por todos os investigadores sérios dos ensinamentos de Krishnamurti. Isso também faz parte da terra sem caminhos, e desejo a todos vocês o melhor em sua busca. Não será fácil, mas, depois de examinar as consequências de uma vida centrada em torno de eu/ego, há realmente algo mais que valha a pena trazer para a nossa vida?
Artigo por Robert F. Steele, MA
Robert é um conselheiro de saúde mental aposentado e estudante vitalício de Krishnamurti.
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